Consciente


Vi o Manuel Cargaleiro na RTP2. Estavam a anunciar a inauguração de uma exposição em Gaia e de repente 'O autor...' e ei-lo. Vivo, para meu espanto.

Não, nunca me tinham anunciado a sua morte mas as artes plásticas estão-nos, hoje, tão distantes pela ausência de obras e artistas do quotidiano que assumi, inconscientemente, que os nomes que ouvi desde sempre, desde quando esperava um novo episódio da 'Rua Sésamo' já não estavam entre nós.
Está vivo e activo. Lúcido, que é o adjectivo que todos evocam quando alguém de 96 anos é vivo e não vegeta à sua frente. Sim, lúcido, mas com uma lucidez que ultrapassa a simples coordenação, com uma lucidez que se nota antiga, intrínseca. Uma lucidez que o faz rejeitar a imagem tipo do artista 'inquieto', sofrido tomado inquietações que classificam a sua obra em 'fases'.
É, e é alegre enquanto pinta.
Preocupa-o a falta de apoios a outros artistas. Os outros que deviam cultivar mais a empatia e menos a sobranceria. A entrevista foi despachada em menos de 5 minutos.


Manuel Cargaleiro (1927-)
Poema de José Tolentino de Mendonça, 2014





Comentários

  1. Os últimos anos de vida são quase sempre dramáticos, sobretudo pelo silêncio. Ou porque já se disse tudo, ou já não damos pelo tempo que passa..
    É um erro crasso pensar-se que a vida é cor de rosa. Ou amável para todos.
    Saúdo o seu regresso à blogosfera.

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  2. Cargaleiro é um artista tranquilo e solidário com os outros artistas, sei disso.
    Voltarei a este seu espaço.

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