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A mostrar mensagens de julho, 2023

Verde

Regressei a alguns lugares do passado. Recordava melhor uns do que outros. Não me lembrava de que ‘Twin Peaks’ tinha tantos episódios . Dois a três episódios por dia e ainda não sei quem matou a Laura Palmer! Também não me lembrava de ser tão paciente com os períodos de insónia nem de como os sonos leves que os medeiam me proporcionam sonhos dos quais consigo recordar algumas cenas. Raramente me lembro dos sonhos, mas destes em que visito o subconsciente por alguns minutos, se me intrigarem o suficiente para os questionar assim que acordo, lembro-me.  Numa dessas noites em que depois de tardar a adormecer caí num sono leve e cansativo sonhei que ia a uma joalharia ajudar um conhecido escritor português a escolher jóias. Entrei na joalharia e ele que já estava a ver as peças pergunta-me erguendo uns brincos – Que achas? – tratava-me por tu. E, porque não? Se partilhamos a intimidade de um sonho… insistia – São lindos, não são? – E eu a ver que não, a ver que eram horríveis, mas sem sen

Suécia

Pensei que a peça que marca a estreia do Pedro Mexia como dramaturgo ia ficar mais tempo no Teatro de São João. Os últimos fins de semana de Junho foram demasiado quentes, não tive ânimo suficiente para procurar bilhetes e agora, já era! Imagino que seja mais um drama familiar marcado por pequenos episódios quotidianos que pautam uma felicidade possível, já o vimos fazer isso na televisão, mas entusiasmava-me o facto de partir do pressuposto de que ‘todos temos uma ideia da Suécia’.  Eu não tenho ‘uma ideia da Suécia’! Não vejo a Suécia nos filmes do Bergman vejo famílias, angustias, batalhas pessoais… e, vejo-as em praias, casas ou lares mais ou menos desfeitos… Não vejo a Suécia. Também não penso na Suécia quando ouço o ‘Mamma Mia’ ou o ‘Dancing Queen’ dos Abba. Têm músicas orelhudas capazes de nos reverberarem na cabeça durante dias, mas nunca me deram uma ideia da Suécia. Politicamente, confesso que nunca me debrucei muito sobre a utopia social-democrata, mas os poucos números que

Birkin

Faleceu Jane Birkin , aos 76 anos. Atriz, cantora, ativista, livre e considerada, por muitos, ícone de elegância.  Durante anos Birkin fez-se acompanhar de uma cesta de vime. Dizia que não conseguia encontrar uma mala suficientemente confortável e prática. Após um encontro com o diretor da marca francesa Hermès , em 1984, Jane deu nome ao modelo ‘ideal’, nascendo assim o modelo Birkin . Em 2015, Jane solicitou que o seu nome deixasse de estar associado ao modelo Birkin Croco por não respeitar o bem-estar animal, mas o modelo Birkin seguiu como um dos mais caros do mundo chegando a atingir o valor de cerca de 30 000 euros.  Jane passou de uma cesta a que qualquer um podia almejar para uma mala com que só alguns podem sonhar. No final dos anos 80 ainda me mandavam à mercearia buscar o pão com um saco de pano e as senhoras mais velhas levavam as suas cestas para todo o lado, às compras, à cidade com os papéis para mostrar ao médico, com o almeiro nas excursões… mas com o aumento do fas

Leveza

Morreu o Milan Kundera.  Não, não vou dedicar-me a obituários, não se preocupem! Não tenho jeito para me dedicar a vidas completas concentro-me demasiado nas episódicas e essas todas juntas não dão a biografia necessária.   Escrever um bom obituário é mais difícil do que escrever uma boa crónica talvez por isso não exista um escritor português que se especialize em tão laboriosa arte. O serviço que o ‘Expresso’ nos oferece com a curadora avençada do Município de Lisboa a compilar informações do ChatGPT e da Wikipédia , não conta. Um bom obituário implica ter ou criar intimidade com o morto e isso é muito difícil principalmente para alguém tão superficial. Morreu o Milan Kundera, dizia, e como sempre que morre ou aparece publicamente alguém que há muito tempo não me assomava à memória o meu primeiro pensamento foi ‘olha, ainda era vivo’. Não consigo substituir isto pela consternação geral partilhada em cartelas nas redes sociais. Em tempos, lia muito o Kundera. Era um período complicad