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A mostrar mensagens de maio, 2023

Lonjura

No sentido de desincentivar o consumo de tabaco foram aprovadas algumas medidas que visam dificultar o seu acesso. Em 2025, a venda de tabaco fica restrita a locais específicos e de repente uma parte dos portugueses percebeu que fora das áreas metropolitanas o único estabelecimento a que muitas pessoas têm acesso perto de casa é a mercearia que serve de tasca, payshop , revendedor de gás (…) que deixará de vender tabaco e indignou-se.  - Coitado do Sr. Zé  de Duas Igrejas, Miranda do Douro, que vai ter de passar a fazer muitos quilómetros para comprar tabaco .- Gritaram e as televisões foram atrás do Sr. Zé que - Sim, senhor! - Está chateado por ter de passar a fazer muitos quilómetros para comprar tabaco. Confirma. Mais não se esperava de quem é sistematicamente esquecido e de repente se vê com um microfone à frente.  O Sr. Zé confirma e os indignados sentem-se elevados porque denunciaram o problema do Sr. Zé cuja voz nunca teríamos ouvido se não fossem os seus posts e comentários. O

Entretenimento

Assistir às declarações da Chefe do Gabinete do Ministério das Infraestruturas, Eugénia Correia e do Ministro das Infraestruturas, João Galamba na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à Tap tem sido um entretenimento interessante. É daqueles programas em que temos a certeza de que não vai acontecer nada para além do que já conhecemos mas mesmo assim assistimos não vá o Diabo tecê-las. À partida poderia ser aborrecido, para algumas pessoas é, a mim não aborrece. É como assistir a uma telenovela, podemos fazer a lista das compras, pagar contas, responder mensagens e emails, preparar o jantar, jantar, arrumar a cozinha… tudo, enquanto a megera conspira para sacar o galã à mocinha, sem perder o fio à meada.  Foram longas horas de programa em que se confirmou o que já sabíamos. Há no Governo servidores públicos que abusam do lugar que ocupam. É um problema antigo dos ‘mangas de alpaca’. Referem-se a si mesmos como rigorosos e exemplares e atribuem-se uma longa lista de elogios e caracte

Caminho II

  Talvez pela proximidade do 'evento do século' por cuja oportunidade de ver desbaratados os nossos impostos devemos estar muito agradecidos este ano o mês de Maio, o mês de Maria, tenha tão larga cobertura noticiosa. As peregrinações, os peregrinos, a biografia dos videntes, as ficções produzidas para o cinema inspiradas em Fátima... está tudo lá, esmiuçado. No entanto, compara mal o sacrifício dos atuais peregrinos nos seus sapatos técnicos, meias de compressão, dormidas organizadas, tecnologias, porco no espeto... com a imagem dos peregrinos dos anos 50, 60 do século XX. Compara mal com as senhoras, analfabetas, velhinhas, frágeis, vestidas de preto, que nunca usavam sapatos e só trocavam os chinelos gastos do dia-a-dia por outros, igualmente gastos, de verniz para ir à missa. Compara mal com as senhoras que ainda conhecemos nos anos 80, 90. Com elas e com as suas histórias de caminhada até Fátima. Saíam de madrugada sem GPS, sem telemóvel, sem saber se encontrariam algum te

Caminho I

- Eu pedi! Pedi e a minha madrinha deixou! - Repetiu a vizinha para a mãe que estava sentada à porta a coser sapatos ou a rematar o trabalho que vinha da fábrica de malhas, um desses trabalhos que a distância de mais de 30 anos não permite especificar mas cujas dores nas mãos garantem que estavam sempre lá . 'Pediu e a madrinha deixou', era o que ela dizia. Não fazia sentido. A vizinha tinha ido pagar uma promessa, a Fátima, a pé. Uma empreitada difícil, sem os apoios que há agora, tão difícil que ela não aguentou ficou a meio e foi aí que pediu. Pediu à madrinha que a perdoasse e deixasse substituir o resto do caminho por 10 voltas à Igreja da terra. Um mistério para a menina que estava ali a ouvir a conversa enquanto cortava umas linhas - Quem era a madrinha capaz de livrar alguém de uma promessa feita a Nossa Senhora? E ainda por cima numa troca tão desequilibrada? - Perguntava-se. Tudo bem que a Igreja lhe parecia grande, difícil de contornar quando andava por lá a corre