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A mostrar mensagens de novembro, 2023

Luzinha

A minha mãe chamou-me para ir lá fora, a correr, ver um ‘carreirinho de luzes’ que não eram estrelas nem uma ‘iluminação de Natal’ porque ia muito alta. - Vem aqui! D epressa! - Gritava ela. Fui, claro, mas já não vi luzinhas a brilhar e disse-lhe que eram satélites. - Ali! -  Apontava. - Se calhar é dos óculos, não vejo nada... Devem ser os satélites Há dias, vi umas publicações, nas redes sociais, acerca dos comboios de satélites do Elon Musk e pareceu-me uma hipótese plausível, qualquer outra é menos provável e mais preocupante. Uma nave extraterrestre pode significar o fim da humanidade tal como ela é, não se perdendo muito já que estamos cada vez mais perto de esgotar todas as possibilidades de evolução positiva que tínhamos, era chato. E, uma alucinação implicaria recorrer a mais uma especialidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que, como se sabe, não vai bem. Satélites, contentamo-nos com a possibilidade de serem satélites que nos levou à certeza de que tenho que troc

A Implicação

  -Vámoláver, desconfiar, desconfiava de qualquer coisa, mas não era de nada disto… No início, o Padrinho contactava-me amiúde, contava-me as suas conquistas e eu pedia-lhe ajuda para resolver coisas complicadas que me apareciam no serviço,  mas depois eu mudei-me para o palácio e o Padrinho passou a contactar o meu chefe de gabinete, combinavam coisas, só sabia dele quando o meu chefe de gabinete me dizia com ar gozão "o Padrinho mandou-te um abraço". Pensei em telefonar-lhe, confrontá-lo, mas não queria parecer implicativo.  Éramos amigos de casa, as nossas famílias faziam férias juntas, não percebia aquele afastamento. Custava-me. Também nunca confrontei o meu chefe de gabinete, não sou um desses patrões implicativos … confiava nele e dava-lhe liberdade. Quando o Padrinho começou a aparecer no palácio, com outras pessoas para reunir com o meu chefe de gabinete, fazia por me cruzar com ele e ele nada. Nunca me apresentou às pessoas com quem depois ia almoçar…  Sentia-me tri

alma.na.que

A minha mãe guarda os Almanaques dos Missionários da Boa Nova no armário da casa-de-banho. Tem uma colecção muito expressiva, o mais antigo é de 2000. Não sei como começou, mas entretanto já me sinto super capaz de cuidar da horta que não tenho.  Em Novembro, plante alhos! Nem toda a gente gosta de alhos, eu gosto de alhos, são úteis. Estes Almanaques têm o propósito de patrocinar as missões desenvolvidas pela congregação, em África. Contam a vida dos santos, informam as estações, os dias e as luas, como tratar da horta e têm algumas páginas dedicadas a um 'humor de caserna' a que a minha mãe não resiste. Volta e meia diz apontando na direcção da casa-de-banho 'num daqueles Almanaques, que estão ali...' e todos sabem que vai repetir uma das piadas que vem como nova mais ou menos de três em três anos.  Antigamente, as revistas dos missionários eram vendidas por uma velhinha, ligeiramente corcunda, que nos salvava muito baixinho com um 'louvado seja nosso senhor Jesus