Entretenimento


Assistir às declarações da Chefe do Gabinete do Ministério das Infraestruturas, Eugénia Correia e do Ministro das Infraestruturas, João Galamba na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à Tap tem sido um entretenimento interessante. É daqueles programas em que temos a certeza de que não vai acontecer nada para além do que já conhecemos mas mesmo assim assistimos não vá o Diabo tecê-las. À partida poderia ser aborrecido, para algumas pessoas é, a mim não aborrece. É como assistir a uma telenovela, podemos fazer a lista das compras, pagar contas, responder mensagens e emails, preparar o jantar, jantar, arrumar a cozinha… tudo, enquanto a megera conspira para sacar o galã à mocinha, sem perder o fio à meada. 

Foram longas horas de programa em que se confirmou o que já sabíamos. Há no Governo servidores públicos que abusam do lugar que ocupam. É um problema antigo dos ‘mangas de alpaca’. Referem-se a si mesmos como rigorosos e exemplares e atribuem-se uma longa lista de elogios e características que acreditam validar todas as suas decisões mas esquecem-se do principal, esquecem-se do dever de serviço. 

A Sra. Dona Eugénia Correia, por exemplo, repetiu várias vezes exibindo grande sobranceria e prepotência que ‘quem paga as contas dos telemóveis é ela’ e paga até a conta do Sr. Ministro, vejam só. Estranhamente ninguém a recordou de que quem paga as contas somos nós, Portugueses. Pagamos até a conta do telemóvel dela, sendo que ela tem o dever de processar ou dar a ordem de pagamento porque faz parte das suas funções como fará, por exemplo, gerir a compra do papel higiénico do Ministério o que tendo em conta o tempo que os funcionários passam na casa-de-banho ultimamente não será tarefa pequena. O Enfase dado pela senhora ao facto de ser ela a pagar as contas pretendia legitimar o que é inadmissível em qualquer relação laboral, mesmo que a atitude parta de alguém hierarquicamente superior, ter acesso aos equipamentos e informação neles guardada pelos funcionários independentemente da sua natureza. Consegui, nesse momento, imaginar o sorriso estampado na cara de muitos dos superiores com que me cruzei.

Uma das curiosidades desta CPI é que à entrada da sala em que se realiza está um mural contra a violência sobre mulheres e coincidentemente, ou não, por diversas vezes quer a Sra. Dona Eugénia Correia quer o Sr. João Galamba tentaram usar a causa e a cartada da fragilidade feminina para descredibilizar o Sr. Frederico Pinheiro. Usaram várias vezes com condescendência termos como ‘as senhoras’ ‘eram mulheres assustadas’ e o cumulo foi quando à expressão do deputado do PSD ‘comportamento desvairado das senhoras’ o Sr. João Galamba endireitou as costas e debitou um discurso que parecia ensaiado à espera do momento certo transformando o que o deputado do PSD disse em ‘senhoras desvairadas’ e chamou à conversa uma suposta defesa das senhoras evocando expressões como ‘usavam minissaia e pintavam os lábios, estavam a pedi-las, é isso?’. E, não, não é isso. Foi demasiado evidente que estava a usar a causa feminina para descredibilizar o oponente e se há coisa que as mulheres dispensam é isso.

As mulheres, a causa feminina e a luta contra a violência sobre mulheres dispensam ser usadas para desviar a atenção de uma situação de uso desproporcional dos meios do Estado, que foi o que aconteceu depois de as Senhoras funcionárias (4 dentro de um edifício público com segurança) terem falhado a tentativa de reter um colega dentro de um edifício público. O importante o Sr. Ministro não tinha preparado tão bem. Não conseguiu explicar porque é que contactou meio Governo e altos responsáveis das forças de segurança para denunciar o roubo de um computador, ao qual ninguém acedeu antes de dar como roubado para confirmar se a informação classificada que temiam ser roubada estava lá ou não. Assim como, não conseguiu provar que é tão competente como diz, pois, por várias vezes referiu a sua participação na preparação do processo de privatização da Tap, mas ao ser questionado se os cerca de setecentos milhões de euros (duas tranches) que faltam pagar do processo de reestruturação vão ter que ser pagos mesmo depois de a Tap ser privatizada disse não saber responder. 

Tudo bem que estávamos todos a usar a CPI para nos entreter, mas esperava-se mais de um Ministro do que preparar o acessório com floreados novelescos e mostrar-se incompetente no essencial só porque acha que os Portugueses não vão reparar em certos interesses ou pormenores da privatização da Tap se estiverem distraídos.

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