Lonjura


No sentido de desincentivar o consumo de tabaco foram aprovadas algumas medidas que visam dificultar o seu acesso. Em 2025, a venda de tabaco fica restrita a locais específicos e de repente uma parte dos portugueses percebeu que fora das áreas metropolitanas o único estabelecimento a que muitas pessoas têm acesso perto de casa é a mercearia que serve de tasca, payshop, revendedor de gás (…) que deixará de vender tabaco e indignou-se. 

- Coitado do Sr. Zé  de Duas Igrejas, Miranda do Douro, que vai ter de passar a fazer muitos quilómetros para comprar tabaco.- Gritaram e as televisões foram atrás do Sr. Zé que - Sim, senhor! - Está chateado por ter de passar a fazer muitos quilómetros para comprar tabaco. Confirma. Mais não se esperava de quem é sistematicamente esquecido e de repente se vê com um microfone à frente. 

O Sr. Zé confirma e os indignados sentem-se elevados porque denunciaram o problema do Sr. Zé cuja voz nunca teríamos ouvido se não fossem os seus posts e comentários.

Os da televisão ouvem o Sr. Zé e vão logo embora, sem mais questões. A viagem é longa e o assunto que os levou ali está tratado. 

No dia seguinte o Sr. José vai fazer muitos quilómetros para levantar a reforma, toda de uma vez porque apesar de pagar as mesmas comissões bancárias que o resto dos portugueses não há regras sobre a forma como os Bancos disponibilizam os seus serviços e a Caixa ATM mais próxima fica a muitos quilómetros dali. Vai de Táxi porque não se pode confiar no único autocarro diário e o comboio deixou de passar no final dos anos 80.  Vai aproveitar para passar no Centro de Saúde que também fica a muitos quilómetros, assim como a Farmácia. Nada a que não esteja habituado. É bem pior quando tem de acompanhar a esposa às consultas no IPO do Porto, aí têm que sair de casa de madrugada para ir ter a Bragança com os bombeiros que os vão levar numa carrinha de transporte muito rodada sem saber se os bombeiros dormiram porque para além de serem profissionais são voluntários que garantem o socorro durante a noite. É pior também porque sabe que depois de tantos quilómetros, quase 16 horas fora de casa, quando chegar não há nada aberto por perto para aviar as receitas ou comprar uma refeição quente e a esposa vai ter dias difíceis e até precisar de socorro que pode não chegar a tempo por ter que percorrer muitos quilómetros. 

Mas depois num dia mais sossegado, quando estiver a fumar um cigarro vai recordar-se das pessoas da televisão e dos indignados e de como foi simpático terem denunciado as dificuldades que vai ter para comprar tabaco em 2025 apesar da distância que os separa.

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