Suécia


Pensei que a peça que marca a estreia do Pedro Mexia como dramaturgo ia ficar mais tempo no Teatro de São João. Os últimos fins de semana de Junho foram demasiado quentes, não tive ânimo suficiente para procurar bilhetes e agora, já era!

Imagino que seja mais um drama familiar marcado por pequenos episódios quotidianos que pautam uma felicidade possível, já o vimos fazer isso na televisão, mas entusiasmava-me o facto de partir do pressuposto de que ‘todos temos uma ideia da Suécia’. 

Eu não tenho ‘uma ideia da Suécia’!

Não vejo a Suécia nos filmes do Bergman vejo famílias, angustias, batalhas pessoais… e, vejo-as em praias, casas ou lares mais ou menos desfeitos… Não vejo a Suécia. Também não penso na Suécia quando ouço o ‘Mamma Mia’ ou o ‘Dancing Queen’ dos Abba. Têm músicas orelhudas capazes de nos reverberarem na cabeça durante dias, mas nunca me deram uma ideia da Suécia. Politicamente, confesso que nunca me debrucei muito sobre a utopia social-democrata, mas os poucos números que nos chegam provam que está cada vez mais longe de se tornar realidade. O capitalismo e as assimetrias socias crescentes naquele território até me dão uma ideia de Suécia, mas é uma ideia a evitar.

Nunca visitei a Suécia, gostava de perceber qual é essa certa ideia coletiva de Suécia e que coletivo é esse que a tem. Principalmente isso, como é o coletivo que partilha ou acha que partilha uma certa ideia de Suécia com o Pedro Mexia. 

Teria apanhado o comboio mais cedo só para apreciar a plateia. Discreta no meu cantinho, atrás do telemóvel a tirar notas, tal qual o David Attenborough a observar a fauna atrás de uma moita. Dos demasiado introvertidos para exibir a sua intelectualidade não retiraria conclusões. Mas aposto que não faltariam os habituais fatalistas prontos a exibir a sua ideia de Suécia fruto de muitas horas sofridas a assistir Bergman, uma ideia que lhes desce mais dolorosa do que a bala que fez de Jacques um coxo, uma ideia que sem eles não o seria como de resto todas as que partilham entre si nos eventos que o salário da carreira pública lhes permite pagar. Sempre os mesmos no grupo dos sofredores culturais, ouvintes uns dos outros. Impenetráveis, mas a fazerem-se ouvir. Destes havia de ouvir qualquer coisa... Destes sacaria até o método para atingir ‘a ideia de Suécia’, um método do qual o empirismo do Pedro Mexia a deixar escorregar um ‘Dancing Queen’ no duche enquanto se ensaboa estará certamente excluído.

Foi uma pena! Não conheço a Suécia e continuo a não ter ou partilhar uma ideia sua antes de a conhecer. Fica para a próxima. Entretanto, depois disto, sou capaz de deixar escorregar uns ‘Dancing Queen’ aqui e acolá.

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